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A CRISE HÍDRICA DO BRASIL E AS ENERGIAS RENOVÁVEIS

Há 20 anos o Brasil já sentia o que seria o impacto de uma crise hídrica. Em 2001 tivemos o apagão que resultou em um racionamento de energia severo para a população brasileira. O evento ocorrido foi uma mistura de falta de planejamento da expansão da oferta de energia elétrica no país, associado a uma primeira escassez de água. Em um país onde a oferta de energia elétrica à época era proveniente de, pelo menos, 80% de fontes hídricas, aliada à expansão da economia junto com um regime escasso de chuvas culminaram no problema que enfrentamos duramente dentro de nossas casas e indústrias.

crise hidrica do brasil

Frente ao que se apresenta no gráfico acima, temos uma pergunta interessante: O que mudou de 2001 para 2021 na geração de energia elétrica no Brasil?

Nesse período a participação percentual das fontes hídricas reduziu consideravelmente, pois entraram novas ofertas de energia elétrica com a implantação dos parques eólicos, parques fotovoltaicos e usinas térmicas movidas à biomassa. Em contrapartida, o consumo de energia elétrica também cresceu e, mesmo tendo diminuído a dependência das fontes hídricas e consequentemente do regime de chuvas, o Brasil ainda não possui a estabilidade energética desejada e a cada ponto de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), nós, especialistas da área de energia, nos perguntamos: Será que o sistema suporta mais um ano? 

As fontes de energia renovável são complementares entre si, são ambientalmente mais amigáveis, porém exigem um maior planejamento do setor energético do país. Cada uma com sua particularidade, mas com uma característica que é comum a todas elas: variação.

Um belo exemplo é a energia solar. Temos sol o ano inteiro no hemisfério sul, mas a luminosidade útil é na média de 6 a 7 horas por dia. Também temos dias de chuva, e no momento da precipitação não conseguimos gerar energia a partir das placas fotovoltaicas. No caso da biomassa, oriunda de qualquer cultivo, estamos presos aos períodos de safra e, sendo assim, não temos energia disponível o ano todo. No caso da eólica, dependemos do regime dos ventos que também possuem sua variação natural de velocidade e consequentemente em sua capacidade de geração.

E qual é a importância destas fontes em complementaridade com a energia elétrica oriunda das usinas hidrelétricas?

No caso da energia solar, costumo dizer que cada watt de energia aproveitado do Sol, é o perfeito aproveitamento do único combustível que temos de graça apesar de os governos já quererem taxar, também, a utilização que fazemos dela. Obviamente se geramos energia sobre nossas casas estamos evitando o consumo de energia da rede e, consequentemente, diminuindo a necessidade das hidrelétricas. Um fato importante é que nas regiões semiáridas do Brasil a escassez de chuvas pode contribuir com a geração mais linear da energia fotovoltaica.

No caso da energia eólica, temos ainda mais um benefício, pois os ventos, apesar de terem alteração em suas velocidades, independem da luz para a geração de energia. Desta forma, o aproveitamento da força dos ventos, principalmente no Nordeste do Brasil, onde falta água, também evita o comprometimento dos reservatórios das hidrelétricas.

No caso da energia advinda da biomassa, temos uma concentração no Centro Sul do Brasil, puxada pelo cultivo da cana-de-açúcar em São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná, onde o cultivo ocorre normalmente entre abril e novembro, no período mais seco do ano. Com a colheita da cana e a utilização do bagaço, após a extração do caldo para a geração de energia elétrica e térmica (regime de cogeração de energia), conseguimos uma injeção substancial de energia elétrica no sistema integrado nacional, justamente no período que os reservatórios estão mais baixos.

O fato é que nosso sistema elétrico é quase um ser vivo, com muitos pormenores, e isso não conseguimos enxergar nos noticiários de TV que pouco ou nada falam sobre as especificidades das diferentes formas de energias renováveis. Acreditamos que as energias renováveis são o caminho para o equilíbrio entre oferta e demanda, porém rumo à sustentabilidade.

Como sempre, gosto de deixar uma provocação para que repensemos algumas de nossas ações: Será que nossa a sociedade brasileira está pronta para saber que a crise hídrica está intimamente ligada ao desmatamento desenfreado? Será que nossos os órgãos governamentais estão prontos para analisar os benefícios das fontes de energia renovável e trabalharem para fomentar o aumento desta oferta? E você leitor, tem economizado água e energia elétrica no seu cotidiano? No final, como somos muitos, cada gota, cada lâmpada, cada eletrodoméstico ligado, conta, e conta muito para o caos hídrico e elétrico que vivemos.

O Nordeste brasileiro, provavelmente, não foi sempre árido como hoje, assim como o Saara e o Atacama. O quanto mais falta para todos terem consciência que se continuarmos neste ritmo global de emissão de CO2 e de desmatamento, teremos mais desertos, menos água potável e consequentemente mais problemas graves para a sobrevivência humana?

Talvez seja a hora de renovar nossos pensamentos! Quer renovar os seus? Acompanhe de perto nossas publicações!

Obrigado pela leitura!

Sobre o Autor: Carlos Eduardo Oliveira

Engenheiro Mecânico - Diretor da Renova Consultoria e Consultor especializado em energia renovável e eficiência energética

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