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O CARRO ELÉTRICO, A CRISE ENERGÉTICA, A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E O CONSUMO.

Um dos assuntos mais comentados recentemente sobre energia no Brasil é a transição dos automóveis movidos por motores a combustão para automóveis movidos a motores puramente elétricos. Este texto busca trazer ao leitor uma reflexão mais profunda, sem a roupagem do marketing para venda de veículos e sem fanatismo algum na questão ambiental. Vamos olhar constatações, números e fazer algumas análises simples, porém necessárias, para podermos tomar partido em uma discussão tão acirrada.

Primeiramente, vamos falar sobre carros e não só sobre os elétricos. O argumento normalmente utilizado para a transição para carros totalmente elétricos tem a ver com a questão da poluição causada pelo uso de combustíveis fósseis. Não li até hoje uma comparação mais completa que avaliasse a cadeia de produção dos dois tipos de veículos, e nem que discorresse sobre a poluição que cada veículo emite com partícula dos pneus e sistemas de frenagem, que é exatamente igual nos dois tipos de veículos.

Vejo a tendência de se copiar as medidas europeias que impuseram normas rigorosas para contenção da emissão de gases, oriundos da combustão, e aplicar essas normas no Brasil e no mundo, sem necessariamente se avaliar as diferenças estruturais entre os continentes ou países. Um carro elétrico na Alemanha, para rodar numa Autoban (rodovia de padrão internacional famosa pela qualidade do pavimento e velocidades de rodagem elevadas), ou em cidades estruturadas como Berlim ou Munique, é completamente diferente de um carro elétrico no Brasil que não possui esse conceito de vias e rodovias . Não digo isto pensando em espaços urbanos com maior infraestrutura de locomoção, como a avenida Faria Lima, em São Paulo, ou na região de Copacabana, no Rio de Janeiro, mas sim no espectro geral e amplo de um país com dimensões continentais. O principal ponto para mim é: como e onde vamos carregar as baterias destes carros, se não conseguimos lidar nem com uma infraestrutura elétrica decente para que os semáforos não apaguem com uma chuva de verão?!?

Um segundo ponto, e não menos importante, é o fato de que não temos energia disponível hoje para promover crescimento econômico no país. Trabalhamos com consultoria para a indústria alimentícia e para o setor do agronegócio e vemos cotidianamente a preocupação das empresas sobre o custo e disponibilidade de energia no curto, médio e longo prazo. Logo, reflito se esta transição é realmente tão urgente no Brasil, ou não se trata apenas de modismo.

Também me coloco a pensar, que como esta transição está mais na mão da iniciativa privada, se a esfera pública não está se omitindo de pontos importantes para a verdadeira diminuição da poluição com transportes, deixando de investir em infraestrutura de transporte, deixando de ampliar de verdade as linhas férreas, não melhorando as linhas fluviais, e também, ao não investir no transporte público de qualidade que desobrigasse as pessoas a utilizarem em larga escala o automóvel individualmente.

Para reflexão, convido a todos a olharem estes três gráficos  extraídos do site da EPE – Empresa de Pesquisa Energética, relativo ao balanço energético brasileiro em 2021:

cogeração com residuos de madeira
cogeração com residuos de madeira
cogeração com residuos de madeira

Depois de olharmos os três gráficos, trago as seguintes perguntas para reflexão:

  1. Se os transportes hoje representam apenas 0,4% do consumo de eletricidade no Brasil e as fontes fósseis respondem por 15,9% da capacidade de geração instalada, como mudar os carros de combustíveis fósseis para motores elétricos sem poluir mais?
  2. Qual é o planejamento do país em nível energético de longo prazo para suprir a transição dos derivados de petróleo (gasolina e diesel, por exemplo) para termos eletricidade em nossas casas para carregar essas baterias?
  3. O Brasil já possui o etanol e é pioneiro na produção e domínio da tecnologia. Veículos híbridos com pequenos motores elétricos, mais econômicos no trânsito das grandes cidades e utilizando etanol em conjunto não seriam uma solução mais razoável para a transição no longo prazo? Não aproveitaríamos melhor a nossa infraestrutura já instalada?
  4. Pensando no ciclo de vida do veículo elétrico, já sabemos o que vamos fazer com as baterias após o fim da sua vida útil? Lembrando que no Brasil temos um problema nevrálgico com lixo simples que poderia ser reciclado e não é… Imaginemos o que acontecerá com o mercado com muito mais volume do que o de celulares e pilhas comuns?
  5. Será que esta transição energética proposta não tem mais a ver com o consumismo imediato de novas tecnologias automobilísticas do que realmente preocupação com o meio ambiente?

Penso que temos ainda mais motivos para trabalharmos em prol das energias renováveis, porque olhando os dados podemos ter uma certeza: teremos muita dificuldade em suprir a necessidade da sociedade em energia elétrica num futuro bastante próximo.

Aqui na RENOVA, estamos lutando por tudo aquilo que achamos importante: educação, conscientização, eficiência energética e preservação dos recursos naturais. Este texto é para reflexão não só do consumo relacionado ao carro elétrico, mas sobre tudo que compramos e tem uma extensa cadeia de produção e uma grande precariedade no descarte. Nenhuma ação ou produção humana é livre de causar algum impacto na natureza, portanto, pense muito bem antes de consumir ou aderir a ideias que parecem ambientalmente corretas, mas ainda precisam ser muito discutidas para estarem alinhadas à nossa realidade local.

Obrigado pela leitura!

Sobre o Autor: Carlos Eduardo Oliveira

Engenheiro Mecânico - Diretor da Renova Consultoria e Consultor especializado em energia renovável e eficiência energética

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